25/07/2021 às 07:34 Fotos históricas

Fotos históricas: retrato do guerrilheiro Ernesto Che Guevara

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Você certamente já viu muitas vezes a imagem acima, em pôsteres, camisetas, broches ou em veículos de comunicação. Considerada a fotografia mais reproduzida de todos os tempos, este retrato do guerrilheiro Ernesto Che Guevara se transformou num símbolo do século XX, de acordo com estudiosos do Instituto de Arte de Maryland, nos Estados Unidos. Mas qual é a história por trás dessa imagem? O que estava fazendo e em que estava pensando, no momento do registro, o médico argentino que virou líder da Revolução Cubana?

Vamos resgatar relatos do fotógrafo Alberto Korda que detalham os bastidores da imagem clicada por ele em Havana, no dia 5 de março de 1960, há exatos 60 anos.

De início, apenas pequenas publicações cubanas usaram a foto, que só ficou conhecida globalmente depois da morte de Che Guevara, em 1967. Uma das peças mais famosas cunhadas a partir do retrato é o pôster estilizado criado pelo irlandês Jim Fitzpatrick, ainda naquele ano. Em 1968, o americano Andy Warhol fez uso da mesma técnica para compor a obra que reproduz a imagem de Guevara diversas vezes, com cores diferentes, num processo gráfico idêntico ao que ele utilizou sobre imagens de Marilyn Monroe e de outras celebridades. Em 2003, a popstar Madonna apareceu na capa do seu disco "American life" numa imagem de si própria que remete diretamente à foto de Alberto Korda.

Em Cuba, uma gigante estrutura de aço que reproduz os contornos do retrato enfeita uma lateral do prédio do Ministério do Interior, em Havana. A fotografia também está impressa em relevo na moeda de três pesos do país caribenho.

Numa entrevista publicada pelo GLOBO em 2 de janeiro de 1989, Korda contou à agência de notícias AFP detalhes de como fez a famosa fotografia, pela qual jamais tinha recebido sequer um tostão em direitos autorais. No dia 4 de março de 1960, o cargueiro Le Coubre, que chegou a Havana com 76 toneladas de armas e munição para o exército cubano, estava sendo descarregado no porto local quando uma explosão no navio matou cerca de cem pessoas e feriu outras centenas. No dia seguinte, um sábado, Fidel Castro comandou uma marcha fúnebre com milhares de pessoas pelo Malecón, na orla de Havana, e fez um discurso responsabilizando a CIA, a agência de inteligência americana, pela explosão.

- Eu estava fotografando as pessoas presentes na tribuna quando, de repente, vi o Che com esse olhar fixo no infinito, essa expressão decidida. E pensei comigo, "será um ótimo retrato de sua personalidade" — lembrou Alberto Korda, que estava cobrindo o evento para o jornal cubano "Revolución". - Foram feitas muitas fotos do Che. Mas nunca pensei que a minha rodaria o mundo.

O chefe de Korda no "Revolución" não se interessou pela imagem. O retrato passou anos despercebido, até que, em 1967, o editor e ativista italiano Giangiacomo Feltrinelli apareceu no estúdio do fotógrafo em Havana, buscando imagens de Che Guevara para ilustrar a capa de um livro que ele vinha planejando publicar, com os diários do guerrilheiro na Bolívia (o argentino estava naquele país desde 1966, tentando começar uma revolução). Alberto Korda sugeriu o uso do retrato feito sete anos antes, acrescentando que, como Feltrinelli era amigo de Cuba, não precisaria pagar direitos autorais. De volta à Itália, o conhecido editor começou a espalhar pôsteres com a imagem, para gerar comoção em torno do perigo iminente que Guevara corria na Bolívia.

Após a captura e a execução do revolucionário pelo governo boliviano, em 9 de outubro de 1967, o livro com os diários foi publicado levando na capa o retrato, que a partir daí se tornou mundialmente famoso, mais tarde recebendo o nome de "Guerrilheiro Heróico". De acordo com Korda, foi o próprio Fidel Castro quem entregou os diários e Che para Feltrinelli.

— Na época, o direito autoral havia sido abolido em Cuba. Che foi morto dois meses depois do meu encontro com Feltrinelli. Com o livro, ele vendeu um milhão de pôsteres da minha foto, a cinco dólares cada — conta Korda.

Em meio às convulsões políticas que se espalhavam na sociedade ocidental nos anos finais da década de 60, não demorou até o retrato de Che aparecer em protestos nas ruas de cidades como Milão, Paris e Nova York. Ainda hoje, é comum ver o rosto do guerrilheiro estampado em cartazes durante manifestações que questionam governos ou o próprio modelo capitalista.

Alberto Korda, cujo nome real era Alberto Diaz Gutierrez, morreu no dia 25 de maio de 2001, aos 80 anos. Aparentemente, ele só reclamou publicamente do uso da sua foto de Che Guevara quando, em meados do anos 2000, a imagem apareceu numa campanha de marketing da vodca Smirnoff. “Utilizar a imagem de Che para vender vodca é uma ofensa. Ele nunca bebeu. A bebida não deve ser associada à sua memória imortal”, disse o fotógrafo ao jornal inglês "The Guardian".

Na época, de acordo com a edição do GLOBO de 25 de agosto de 2000, o cubano estava processando a agência publicitária Lowe Lintas, criadora da campanha, e a Rex Features, que vendeu a foto. Em setembro, a Justiça determinou que ele deveria receber uma indenizaçao e que a campanha seria retirada de circulação.

— Sou partidário dos mesmos ideais de Che, por isso não me oponho que reproduzam essa imagem no mundo inteiro para fortalecer sua memória e promover a luta pela justiça social, mas não posso aceitar que a usem para vender álcool ou denegrir a imagem do guerrilheiro — disse.

25 Jul 2021

Fotos históricas: retrato do guerrilheiro Ernesto Che Guevara

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